O tom dos sindicalistas sobre as celebrações do 1º de Maio e os protestos do último dia 28 foi de alertar o Congresso para não desafiar a vontade do povo, prosseguindo com as reformas. As centrais sindicais (CUT, CTB, CSB, UGT, Força Sindical e Nova Central) divulgaram um documento conjunto chamado "A greve do 28 de abril continua", em que prometem "ocupar Brasília". Durante o ato da Força Sindical, o presidente da central, deputado Paulinho da Força (SD-SP), dirigiu suas palavras ao presidente Michel Temer, do qual tem sido aliado desde o impeachment de Dilma Rousseff. "Se o governo não entender, vai ter mais", disse.
As mobilizações tem sido as maiores das últimas décadas - senão da história sindical brasileira, numericamente, mas seguem desconsideradas pelo governo e minimizadas em muitas coberturas da imprensa nacional, que dão destaque aos transtornos e interrupções de trânsito e não abordam as causas do movimento grevista. No dia 28, o bom jornalismo também fez greve e "não compareceu", escreveu com todas as letras a ombudsman da Folha de S. Paulo, Paula Cesarino Costa.
A história ensina
O diretor nacional de Articulação da CNTU, Allen Habert, lembra que o Brasil sempre precisou lutar muito por seus direitos e enfrentar esse tipo de resistência. Ele citou a greve geral de 19 e 20 de agosto de 1963, convocada pela CGT, para conquistar o 13º Salário. Na época, a imprensa também se colocava contra o movimento, como mostra uma edição do jornal O Globo em que a manchete garrafal assinalava ser "considerado desastroso para o País um 13º Mês de Salário".
Contra a campanha da mídia, na época, a greve foi vitoriosa e o projeto de lei foi aprovado e sancionado pelo presidente João Goulart. E como se sabe, o presidente foi depois deposto pelo golpe militar de 1964. O direito conquistado na greve, porém, prevaleceu até hoje e ninguém ousou tocar nessa conquista.
Não dá pra retroceder
O movimento sindical se mantém unificado, com a participação de todas as centrais e entidades nacionais, na convocação e mobilização de suas bases. Na véspera da greve geral de 28, o presidente da FNE, Murilo Pinheiro, anunciou em um evento do Seesp a mobilização das entidades. "A nossa federação, a nossa confederação (CNTU), os nossos sindicatos em todo o Brasil vão participar e mostrar a indignação com todas essas mudanças que ameaçam nosso trabalho e qualidade de vida”, declarou.
No 1º de Maio, os dirigentes enfatizaram que não é possível retroceder nas mobilizações nacionais. Uma próxima greve, ou a convocatória para a realização da "maior marcha que a classe trabalhadora já fez", foi defendida pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, em ato na Avenida Paulista. "Vamos ocupar Brasília integralmente e não permitir que haja votação que retire nossos direitos", avisou.
Congresso acuado
As pressões das ruas e as pesquisas divulgadas pelo Data Folha, apontando 71% contra as reformas, estão assustando os deputados, que correm o risco não retornarem aos seus postos nas próximas eleições, caso não se rebelem contra a escalada de golpes contra os direitos da população. Com os congressistas negando o quórum mínimo de 308 votos para a aprovação da reforma da Previdência, Michel Temer cogita, segundo a imprensa, negociar o adiamento da votação por mais alguns dias, enquanto busca adesões. Para convencê-los, o governo tem falado abertamente em punições, com demissões de apadrinhados de parlamentares infiéis, e emendas para favorecer os que decidam apoiá-lo.
Em São Paulo, a realização de protestos na Avenida Paulista foi considerada uma vitória do movimento sindical contra o prefeito João Dória, que havia decidido proibi-los. Os trabalhadores não acataram o veto e recorreram à Justiça, que liberou a Avenida para as manifestações.
Rita Freire — Portal FNE